O Custo do Digital
- Michael São Lázaro
- 7 de mai. de 2021
- 6 min de leitura
Que o digital é um canal com um potencial enorme é uma questão indiscutível. Que não é um canal para todos os negócios, já é uma questão que gera muita discussão!...
Estar no digital é visto como sendo algo obrigatório, na época em que vivemos. Eu concordo: ESTAR no digital é, de facto, obrigatório. Fazer do digital o principal canal de vendas, ou sequer um dos canais de vendas, já discordo.
Quando observamos de fora, parece tudo simples: é só ter um site, eventualmente um blog, fazer uns posts “e tal”, tirar umas fotos e fazer uns vídeos “coiso”, escrever “umas cenas” e pronto, os clientes aparecem - é quase mágico! A realidade é um pouco mais dura que isso.
A verdade é que o custo de tudo isto é cada vez mais alto, sobretudo à medida que o cliente exige uma atuação cada vez mais profissional – seja por parte das pessoas/profissionais, seja por parte das empresas. “Aparecer” apenas já não é suficiente. Podemos dizer que “aparecer” era o equivalente a abrir a porta do nosso estabelecimento e esperar que o cliente venha para comprar – não vai acontecer.
Então, os negócios depressa se apercebem de que a criação de uma estrutura e de conteúdo semi-profissional ou mesmo profissional tem custos crescentes, que sobem cada vez mais e mais rapidamente do que se imagina à partida.
Podemos falar de plataformas, de material de trabalho, de licenças, de espaços físicos, de profissionais de edição ou até operacionais (equipas de filmagem, fotógrafos, profissionais de som, etc.), de serviços de design e edição, de uma pessoa ou empresa responsável pelo marketing digital, e por aí fora. A lista é, também ela, maior do que se imagina à partida.
Como se não bastasse, com o alcance orgânico das plataformas "free" (redes sociais) a diminuir em flecha e o espaço publicitário no digital a ser cada vez mais disputado, o custo por visualização, por clique, por lead, por conversão também é cada vez mais alto.
E quando nos convencemos que podemos fazer isto tudo sozinhos, percebemos que não temos nem tempo nem energia para o fazer todos os dias e a todo o momento, que é o cada vez mais o padrão de exigência do mercado.
Com muito menos, a maioria dos negócios e profissionais consegue crescer de forma sustentável fora do digital, até estar preparado para enfrentar esta nova oportunidade e novo desafio que a internet e o online nos trouxe.
Foi precisamente este o tema do episódio do Pressão de Fecho Podcast: Passar as Vendas para o Digital (clica aqui para ouvir).
Por isso, antes de agarrar com unhas e dentes o digital e pôr todos os ovos no mesmo cesto, é preciso fazer-se a seguinte analise ao negócio e aos seus recursos:
1) Que meios vai precisar para estar online
O mais óbvio é ter um site – é mesmo a base de tudo. E embora se apregoe “por ai” que não é preciso ter-se um site, para a maioria dos negócios isso não é verdade, é praticamente obrigatório tê-lo. Para os outros negócios que supostamente não necessitariam de um site, ter um só vai ajudar às vendas.
Além do site, vai precisar de um alojamento, de um servidor, de um domínio, vai precisar de ter contas de email, vai precisar de ter um serviço de email blasting, vai precisar um ou mais serviços para receber pagamentos, e de uma serie de outros widgets e apps para operacionalizar o negócio via digital.
Ah! Além de tudo isto, vai precisar de ter quem lhe preste o serviço de manutenção e atualização do seu site. Há casos em que é até mais barato contratar uma pessoa só para isso – ou seja, mais um ordenado!
2) Qual o custo destes recursos, sejam eles iniciais e/ou recorrentes
Tudo isto custa dinheiro, e já foi o tempo em que se pagava somente uma vez!... As empresas perceberam que é na recorrência que está o crescimento e a sustentabilidade do negócio, e cobram mensalmente para disponibilizarem os seus serviços – sejam eles quais forem, até os formulários de contacto (ou outro widget) no site podem ter que ser pagos mensalmente.
Um custo a ter muito em conta é o custo por transação, cobrado pelo serviço de pagamentos que se utiliza. Este custo vai buscar diretamente à sua margem de lucro. Há algumas alternativas que cobram um valor fixo, mas por norma também está diretamente ligado ao volume transacionado.
Um exemplo em voga, sobretudo para quem não transaciona pelas suas próprias plataformas, é o da Uber Eats e semelhantes. O valor cobrado por este serviço aos seus parceiros é de 25% a 30% do faturado! Só para termos uma referência, a Redunicre deve cobrar 1% a 2% do transacionado via multibanco, um centro comercial cobra 2% do faturado, em média...
3) Em que plataformas e/ou redes sociais é preciso estar
Vivemos na era do social. Os sites continuam a ter importância, mas não substituem o impacto da presença socio-digital. Por isso mesmo, precisa saber logo à partida em quais redes sociais quer/precisa estar. Em quantas mais redes sociais estiver, maior será o volume de conteúdo a produzir e/ou a editar, mais tempo e dinheiro isso vai custar.
É verdade que se pode aproveitar o conteúdo de uma rede para outra, mas há algumas variáveis que vão tornar “a coisa” um pouco mais complicada. Primeiro, porque diferentes redes vão privilegiar diferentes formatos – escrito, fotos, vídeos, áudio, lives, stories, a solo ou com convidados, e por aí vai.
4) Como é feita a produção de conteúdos para alimentar o publico (potenciais clientes)
Criar conteúdo de forma consistente é muito, mas mesmo muito mais difícil do que se imagina. É um poço sem fim onde colocamos o nosso foco, energia e tempo. As primeiras semanas ou primeiros meses são o período mais fácil, porque temos muito para dizer, mas e quando estiverem passados seis meses, doze meses, dois anos, três anos…!? Quanto mais tempo passa, mais desafiante se torna.
É importante perceber também que criar conteúdo, em termos de ideia, é apenas uma parte do processo. É preciso criar o copy, para se juntar ao formato imagem ou vídeo que se vai criar. Seja imagem ou vídeo, é preciso editar cada um desses conteúdos. Depois de tudo feito, é preciso fazer o upload, sendo que o formato vídeo pode ser demorado. Se tudo isto ficar apenas à responsabilidade de uma pessoa, vai chegar a uma altura que ela não vai conseguir fazer mais nada.
5) Qual o plafond para anúncios para cada rede social, e até para cada publicação
Criar conteúdo, por muito bom que seja, já não é suficiente. Há algum conteúdo que continua a ser orgânico e/ou viral – sexualidade, comédia e polémica, pouco mais – mas a regra é que o alcance vá caindo (em termos percentuais) à medida que as seguidores ou subscritores vão subindo. Por isso, é importante que haja uma um budget para fazer chegar esse conteúdo até aos potenciais interessados.
Sim, é importante que haja um plafond por post! No mínimo, deve haver um plafond diário, que pode ser investido em pelo menos uma das publicações feitas. De outra forma, o trabalho que se teve em criar aquele conteúdo terá muito pouco valor para o resultado geral.
6) Quem fará a gestão do social e quanto isso vai custar
Sim, chegou a este ponto! Podemos até decidir não delegar a publicação de conteúdos, mas depressa vamos perceber a complexidade que existe no mundo dos Gestores de Anúncios, à medida que vamos “brincando” aos anúncios.
Mais uma vez, se há alguns anos, era relativamente simples ter ROI positivo do investimento em anúncios, hoje este oceano é mais vermelho do que nunca e, consequentemente, mais difícil de nadar ou navegar com sucesso. Por isso, a dada altura (e cada vez mais cedo), será mais vantajoso deixar isto para quem sabe.
7) Qual o custo oportunidade de tudo isto, sobretudo no offline
Fui ensinado a pensar sempre em Custo-Oportunidade. De forma prática, pergunto-me sempre se a minha segunda opção, ou aquela que abdico em detrimento da primeira, me traria mais resultados e mais rapidamente do que esta, e torno as respostas o mais mensuráveis possíveis. Se a resposta for SIM, abandono a primeira e passo para a segunda.
A minha sugestão é que faça o mesmo, sempre que pensar investir no digital: investindo tudo isto na abordagem “old school”, qual seria o retorno que potencialmente teria!? Dependendo da resposta, saberá o que deve fazer.
Atenção que não estou a defender que profissionais ou empresas não devam investir na sua operação digital – essa não é de todo a mensagem deste artigo! Estou a defender que é preciso analisar mais a fundo e ao detalhe esse passo.
A expressão que eu mais leio sobre a digitalização dos negócios é “é só fazer isto”… E não “é só”, nem pensar. É preciso muito, muito mesmo, e a maioria só descobre isso quando já está com um-pé-e-meio do lado de lá da porta.
Li à alguns meses atrás que a maioria das operações no digital dão prejuízo. Não é chocante isso!? Se a regra é essa, corremos um risco sério de estar a desperdiçar recursos desnecessariamente.
O digital é, com certeza, inevitável. A chave é decidir-se como é que se quer estar neste meio. Analise as opções e decida bem.
Um forte abraço, e boas vendas!!
Michael 🚀
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