Quanto investir no primeiro negócio?
- Michael São Lázaro
- 19 de jun. de 2019
- 7 min de leitura
Estávamos em 2011, e foi a primeira vez que eu me deparei com esta questão: precisar de investir a sério para começar o meu negócio.
Não era o meu primeiro negócio, mas era o primeiro que me punha este “problema”.
E a conta não parava, era sempre a somar – e muito!
O aluguer do espaço (que mais tarde passou para compra), as obras, o marketing, o material de som, os editores, as fees da SPA (até hoje, os melhores profissionais de “extor$@o” que conheci), os advogados, os agentes, os próprios artistas, and so on!....
Foi aí que percebi que “só” com dinheiro, não ia conseguir – não que dinheiro não resolvesse tudo, o dinheiro que eu tinha é que não resolvia practicamente nada!... Então comecei à procura das alternativas que estavam disponíveis apesar do investimento financeiro que tinha projectado ser necessário fazer.
E encontrei muitas! Inclusive, grande parte do conteúdo do COMEÇAR DO ZERO é fruto dessa experiência. Ainda assim, para acelerar o processo e o crescimento do negócio, resolvi investir. E hoje percebo que tomei uma serie de decisões em relação ao meu investimento inicial que me salvaram da banca-rota – literalmente.
Nada de custos fixos.
A primeira grande decisão foi de tornar o meu investimento tão “seguro” quanto possível – se é que esta palavra aplica…
E para isso, era importante não ter mais custos fixos do que aqueles que era realmente obrigado a ter.
E esse é um princípio que mantenho até hoje e que me poupa muito, mas mesmo MUITO dinheiro – mesmo que não a curto-prazo, mas a médio e longo-prazo revela-se a melhor opção na maioria dos casos.
Nada de grandezas, nada de show-off, e nada que seja dispensável ou adiável – mesmo que isso afecte, até um limite, a qualidade da minha estrutura.
Sim, porque obviamente que quanto mais eu estiver disposto a pagar, melhor serão (ou, pelo menos, poderá ser) todos os elementos que formam o meu negócio.
Nota que já o fiz – já tive um nível de investimento alto nos meus negócios. E cheguei à conclusão que, sobretudo quando o teu negócio ainda é “verdinho”, que isso pode prejudicar mais do que ajudar e que de pouco valerá se não tiveres forma de rentabilizar isso – e acredita que muitas são as pessoas que fazem altos investimentos nos seus negócios, sem que os seus negócios estejam capazes ainda de serem rentabilizados ao nível desse alto investimento (eu fui um deles).
Trocar tempo por dinheiro.
Sim, trocar tempo por dinheiro - ao contrário do que dizem os "entendidos"... Porque no inicio, não vais ter melhor alternativa.
Quando há um tecto baixo no investimento inicial, há uma coisa que já sabemos: o negócio vai demorar mais tempo a crescer. Deixa demorar…
Como escreveu o nosso Nobel, “não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.
Isso vai fazer com que se perca mais tempo a encontrar soluções, parcerias, canais de vendas…
Vai fazer com que tenhamos que trabalhar com uma qualidade abaixo do que queremos, em termos de marketing, de materiais, de tempo de produção, de pessoas inclusive…
Tudo isso afecta o desenvolvimento do negócio, mas faz parte do processo de crescimento. A minha sugestão é sempre que não se salte etapas. Calma... Respira… Absorve… Aprende o que tens a aprender onde estás.
Não há necessidade de estrangulares financeiramente o teu negócio logo de início.
Investe mais tempo do que dinheiro, até chegar a altura em que o vais poder “comprar tempo” com o dinheiro que o teu negócio faz.
Investir apenas e só no que gera retorno directo.
Tal como procurei evitar os custos fixos ao máximo, procurei também evitar tudo o que fosse desperdício e tudo o que pudesse ser adiado.
Em relação ao que pode ser adiado, na realidade tudo pode! Mas nem tudo convém!...
Em relação ao desperdício, a minha estratégia era muito simples, e consistia sempre na mesma pergunta: “ISTO vai-me dar vendas?”
Nota que não era se ajudava às vendas, mas se RESULTAVA EM VENDAS. É muito diferente.
Muitos novos negócios acabam por se afundar em despesas porque justificam tudo como se fosse imprescindível, e na cabeça da grande maioria dos recém-empreendedores, tudo vai bater nas vendas.
Sim, tudo ajuda ou prejudica as vendas. Mas muito poucas coisas trazem vendas directamente, e entender a diferença entre ambas faz toda a diferença quando se trata de um novo negócio cuja prioridade é fluxo de caixa – e tudo o que se faz deve ter como objectivo gerar entrada de dinheiro em caixa e evitar a saída!
E por fim…
Investir de forma a que se tudo der errado, eu mantenha a minha estrutura pessoal sólida.
Sabes aqueles “iluminados” que dizem que investiram tudo e um par de botas, e que tu tens que fazer o mesmo!? Pois bem!.... 99% deles está a mentir-te.
Sim, a mentir-te – literalmente.
E, provavelmente, estou a falar de muitas das pessoas que tu até segues, até compras os seus livros e os seus cursos, e admiras a “coragem e a capacidade” que eles tiveram para fazer o que fizeram e conseguir o que conseguiram.
Sem querer tirar o mérito a ninguém, ok?... Mas a verdade é que a maioria dos “iluminados” que diz que se despediu e arriscou tudo, ou que esteve perto da falência e outras histórias semelhantes, na realidade não te estão a contar a história toda.
Exemplos!?... Sem citar nomes, pode ser!? :)
Tive um sócio que dizia repetidamente que foi à falência e teve que pedir 150.000€ de empréstimo para poder investir tudo na sua formação para se tornar um “rock star”, e depois disso tudo: “booooom, fez-se o Chocapic!!” (sim, eu sei que uso muito esta expressão!)
O que não contou foi de que ele tinha um terço da empresa do pai, onde recebia dinheiro todos os meses, e que só o edifício estava avaliado em 6 MILHÕES (leste bem) de euros… Ah! E o tal empréstimo!? Foi o pai que deu… Yah!...
Um dos “gurus” que sigo conta uma história que é comum a muitos: “atirei o chapeu para o outro lado, queimei a ponte, despedi-me do nada, sem ter trabalho nem negócio, e a minha esposa ficou muito assustada, mas eu acreditava e consegui!”.
A parte que ele não contava era de que durante anos e anos comprou casas e apartamentos, que lhe faziam ganhar dinheiro mais que suficiente para ter uma vida de luxo todos os meses. Digamos que se ele vendesse tudo, era um euromilhões!
Felizmente, hoje já não precisa contar esta história desta forma, então percebeu que era melhor parar! Mas durante muito tempo, convenceu muitas pessoas a “chutar o balde” como ele o fez (lol!) e a comprar o seu curso para mudarem as suas vidas. Algumas tiveram sucesso, mas a verdade é que a maioria não – movidos por uma história “não tão bem assim”…
Outro exemplo, e este foi vivido por mim.
Em 2016, um dos meus antigos directores, uma das minhas principais referencias profissionais, convidou-me para almoçar para falarmos sobre o meu negócio.
Naquele almoço, entre um sem número de conselhos, ele diz-me que eu devia era pedir 20 ou 30 mil euros para investir a serio no meu negócio, pôr “a carne toda no assador”, que essa seria a coisa que me faltava para ter sucesso e que seria assim que ele o faria.
A verdade é que quando ganhas 5.000€ por mês a trabalhar por conta de outrem, é fácil fazer-se esse tipo de afirmação – porque é fácil pagar-se e porque não se sabe o que é viver com o dinheiro que se ganha no dia-a-dia (literalmente). E também é fácil para as outras pessoas levarem essa sugestão em consideração – mesmo não devendo, porque afinal aquela pessoa estava a fazer precisamente o contrário.
Percebes como tudo isto te pode levar a tomar uma decisão errada que pode pôr em causa toda a tua estrutura pessoal de forma irreparável? Já vi muita gente a fazê-lo, infelizmente algumas pessoas próximas que acabaram sem nenhum património e com dividas irrecuperáveis para o resto da vida. Nunca mais vão poder ter um euro de crédito… É, no mínimo, triste.
UMA NOTA IMPORTANTE: o meu objectivo não é criticar, julgar ou sequer condenar nenhuma destas três pessoas – e estou tão à vontade que escrevi os três exemplos de forma a que qualquer um deles perceba que estou a falar de si.
O meu objectivo é CAPACITAR-TE A TI para tomares melhores decisões, apesar do que ouves – mesmo do que ouves de mim!
Então, dois cenários possíveis:
Um: investir com capital próprio.
Cuidado ao investir-se todo o dinheiro que se tem disponível, ou grande parte do que se tem disponível – sobretudo em poupanças.
A minha mãe sempre me ensinou que devemos estar sempre preparados para uma “dor de barriga”, portanto a melhor coisa que podes fazer é nunca te colocares numa situação em que não estás preparado para o caso de aparecer algum tipo de imprevisto.
Em alternativa, se quiseres mesmo arriscar, não te permitas ficar “descalço” durante muito tempo. Expõe-te ao risco, ok… Mas com a máxima certeza possível de que em breve voltas a estar “calçado”.
Dois: investir com capital alheio – meaning, crédito.
Na minha opinião, começar um negócio com divida é a forma mais idiota de se começar um negócio – sobretudo, se essa divida implicar a liquidação de prestações mensais imediatamente.
É exactamente isto que ensino no COMEÇAR DO ZERO: não começar o negócio com divida. E ensino o passo-a-passo para contruíres uma estrutura que te permita começar a gerar fluxo de caixa sem custos, sem riscos e sem erros – e é válido para qualquer negócio!
MAS!... Se for mesmo necessário, no teu ponto de vista, as minhas sugestões são:
- quanto menos divida contraíres melhor – contrai divida para o estritamente necessário, não te ponhas a pôr dinheiro em coisas que não precisas, que possam ser adiadas e sobretudo que não tenhas conhecimento suficiente teres a certeza que vais ter retorno directo delas imediatamente (tudo coisas que já falámos);
- idealmente, contrai um valor que esteja coberto pelos teus ativos convertíveis – como acções, investimentos simples como PPR ou Tesouro, algum tipo de matéria-prima ou património do próprio negócio (como carros, por exemplo) que possam ser vendidos rápido e facilmente;
- e sobretudo, não te comprometas com um pagamento mensal mais alto do que aquele que poderias suportar mesmo que não fizesses vendas nenhumas – porque esse é um cenário real!...
Bem, para terminar este texto, que já vai longo, vou só dizer-te mais duas coisas:
- primeiro, que TU PODES! Tu consegues, tu és capaz, tu já tens tudo o que precisas. TU PODES!!
- e segundo, uma lição que não me lembro se foi da minha mãe ou de outra pessoa, mas como ela é A MAIOOOOOR, eu vou dizer que foi da minha mãe: dinheiro na mão, cú no chão.
Tudo o resto vai-te induzir em erro, vai-te enganar, vai-te levar a tomar más decisões.
A realidade é o que está na tua mão! Não é a “promessa do que vai estar”, é aquele que está. Lembra-te sempre disso quando alguém te quiser vender alguma coisa – uma história, uma oportunidade, uma “pilula mágica”.
De resto, é só seguires a tua caminhada com consistência. Na hora certa, chegas lá!
Um abraço!
Michael
LET’S GOOO!!!
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