O Problema do Ensino São as Empresas
- Michael São Lázaro
- 22 de fev. de 2017
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de jun. de 2019

Há muito se discute o problema do "actual" sistema de ensino, que “não prepara adequadamente os alunos para o mercado de trabalho.”
Mais recentemente, tem-se discutido de forma mais concreta, com base no argumento de que este modelo de ensino foi criado na Era Industrial e que as exigências do mercado de hoje são muito diferentes das daquela época. Exige-se uma adaptação... mas... que tipo de adaptação!? E como provocar essa adaptação, essa mudança!?
Estava eu a dar formação comercial na Aol., em São Paulo, quando o Roberto, então formando, me perguntou: “O que você pensa sobre este tema, Michael?”
A resposta foi dada no decorrer das primeiras horas de formação pela Directora Comercial, Stela, e pelo Director de Recursos Humanos, Daniel. Eu apenas tive que recordar o agora meu amigo Roberto dessa resposta.
Perguntei à Stela e ao Daniel: “Como vocês contratam o vosso staff?”, ao qual responderam: “NAS UNIVERSIDADES.”
O mercado, em geral, funciona sempre da mesma forma, e o mercado do ensino (isso mesmo, mercado, negócio!) não é diferente de qualquer outro.
As faculdades são o fornecedor. As empresas são o cliente. O principal produto são os alunos.
Questionei a Stela e o Daniel: “Isso significa que, se existir um profissional repleto de competências mas sem licenciatura, nunca seria contratado pela Aol., é isso?”
A resposta foi: SIM. Não seria contratado. É requisito que seja Licenciado, seja no que for.
Não é diferente em Portugal.
Em 2007 decidi que queria ser DIM. Isso mesmo, Comercial na industria farmacêutica, para ser mais claro!
Conhecia pessoas em quase todas as farmacêuticas com presença em Portugal: Novartis, MSD, J&J, Bial...you name it! Na altura, qual bom tuga (!) pedi a todas – mais que uma vez! – que entregassem o meu CV, e colocassem uma boa palavra em relação ao meu enorme desempenho e enormes skills comerciais.
A resposta foi igual, em todas: não tens licenciatura, não tens hipótese. Inclusive por parte de um Director Comercial numa das citadas acima, que me disse: “Michael, você é um excelente comercial, não há duvida (ele era meu cliente na altura), mas sem licenciatura não é possível. Podia até ser uma licenciatura em História, não interessa! Mas sem, não é possível.”
À parte: foi uma excelente motivação para me formar – obrigado! =)
Há, por isso, um padrão bem claro. Padrão em que o cliente, a.k.a. as empresas, diz ao fornecedor, a.k.a. as faculdades: “nós continuamos a consumir o vosso produto”, a.k.a. os alunos.
Não são as faculdades que são o problema. São as empresas.
Hoje há dezenas de opções para que qualquer jovem possa adquirir qualquer competência sem passar pela faculdade. Dezenas de opções! E melhores!!
E os jovens procuram-nas cada vez mais, e optam cada vez mais por essas alternativas. Basta ler qualquer artigo que retrate os Millennials para perceber que “ser contratado” não está no topo das suas prioridades (e se estiver, a probabilidade de "saltar fora" é gigantesca), por isso tantos acabam por colocar o ensino convencional em segundo plano.
Às empresas que clamam “mudem o sistema de ensino”: WAKE UP!!
O sistema de ensino já mudou. Vocês é que ainda não pararam de olhar para o sitio do costume.
Não é o sistema de ensino que está errado. Vocês é que não estão preparadas para o “novo” sistema de ensino, que exige mais participação por parte das empresas e mais trabalho na validação de competências dos candidatos, em vez de uma postura de “mandem-mos lavadinhos, aprumados e penteados.”
Eu, como fornecedor, faria o mesmo que as faculdades: se o meu produto continua a ter procura, cada vez mais por sinal, para quê investir os meus recursos limitados criando algo que pode não ter aceitação no mercado, em detrimento de investir no que funciona!?
É sempre o cliente que dita as regras. Por isso, não é o sistema de ensino que tem que mudar. São as empresas. Quando as faculdades perceberem que as empresas se estão a “abastecer” em outro lugar, não vão ter alternativa senão adaptar-se.
LET'S GOOO!!!
Michael São Lázaro
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